23:45 - As visões eram reais, a profecia se concretizou. Dentro de alguns instantes o mundo que você conhece está prestes a desaparecer.
"Justin Bieber e o Livro Perdido"
Por André de Jesus Torres
Capítulo 1
Era uma quinta-feira. Uma quinta-feira chuvosa. O Jornalista Alex Grambel estava sentado em seu escritório no vigésimo terceiro andar de frente para a janela observando os pingos de chuva se chocarem lentamente, um a uma contra a parede de vidro que dava vista para a Avenida Paulista. Olhou de relance para mesa. Muitas folhas se misturavam a arquivos e anotações. Ao seu lado um painel estava coberto por fotos e recortes de jornais. Eram imagens que ele aprendeu a ignorar com o tempo. Depois de algumas semanas eram como se nem estivessem ali.
Tirou os óculos e colocou sob o romance que acabará de ler pela segunda vez e esfregou os olhos. Coçou a cabeça, seus dedos cansados caminhavam por entre os fios brancos parcialmente tingidos com uma tintura preta até finalizarem sua trajetória na cicatriz. Ergueu a cabeça para o alto e silabou algumas palavras na esperança de que alguém lá em cima o estivesse ouvindo. Nada de novo. Levantou-se e caminhou até a janela de vidro. Eram várias, na verdade, e juntas cobriam toda aquela parede, permitindo á luz adentrar no escritório sem precisar bater na porta ou marcar um horário com a secretária. A luz era uma intrusa, uma hospede no começo indesejável mas com a qual ele já estava familiarizado. Tanto que mandou a Anna tirar as persianas. No começo ele se sentiu arrependido pela sua decisão, mas depois se adaptou a nova decoração viva e brilhante da sua sala. Ela estava mais viva, mais alegra. Ele estava mais alegre. Tanto que em uma segunda-feira onde estava afoito com um fax que não chegava ele puxou uma cadeira e jogou cartas com o homem que limpava as janelas. Do lado de fora.
As coisas estavam progredindo lentamente, mas estavam. E isso era o mais importante. Mas quando ele finalmente achava que seu passado estaria perdoado, um fantasma de seu passado retorna para assombrá-lo.
Há quatro semanas atrás a sala já não era mais tão viva.
Capítulo 2
-Tem certeza de que é esse o nome?
Ele pressionava o interfone. Não foi fácil aprender a usar a nova geringonça, mas era isso ou voltar pra sala dos fundos que mais se assemelhava a uma sela de prisão. Dessa vez deu certo.
-Ok, mande subir.
No térreo, muitos metros abaixo dos pés do incrível Grambel um elevador escuro e apertado atravessava os vários andares com a mesma determinação de um maquinista (Ou piloto, ou motorista) de um trem bala. Dentro dele um homem sério e solitário se escondia por baixo de um traje finíssimo, provavelmente de alguma grife famosa. Ele não tirava os olhos do seu solex importado. Consultava as horas inúmeras vezes com intervalos mínimos de tempo. Talvez isso o transmitisse algum tipo de segurança, ou talvez fosse um hábito que não pudesse controlar. Ou talvez estivesse atrasado para algum compromisso importante. A única certeza era de que o segurança que monitorava cada movimento de nosso novo personagem enquanto comia seu sanduíche fazia as mesmas perguntas a si mesmo. E assim como você não encontrou nenhuma resposta concreta.
O elevador chegou ao vigésimo terceiro andar. As portas de metal se abriram e delas saia o homem mais temido pelos produtores de cinema. “F” era como o chamavam. “F” é o maior critico de arte do Brasil. Ou ao menos era isso que sua imagem vendia. Ele era bom nisso.
Grambel saiu da sala e olho em direção ao elevador. Nada.
-Pensei que estivesse morto - Disse “F” o surpreendendo.
-É, eu também – Respondeu surpreso.
-Impossível, nós sempre tentamos manter contato.
-Falava de mim.
Agora ele analisava o corredor de relance com seu olhar critico e atento a cada detalhe.
-Linda ficou preocupada.
-Imaginei que ficaria.
-Não pode colocar tudo que vocês conquistaram em jogo, Grambel! Não pode arriscar sua vida e a dela tentando reviver os velhos tempos.
-Essa nunca foi a minha intenção.
-Conheço bem suas intenções – Ele o encarava – Sabe como foi difícil encontrá-lo depois de quatro anos? Você se superou dessa vez, fugiu sem deixar nenhum rastro ou sinal – Ele olhou novamente o relógio – E você sabe como sou observador.
-O melhor que já conheci. Como está Linda?
-Se recuperando, ela sofreu um grande trauma, mas ainda assim só pensa em você. Ela ajudou um pouco nas buscas.
-Ela nunca desisti, não é mesmo?
Eles se encaravam novamente.
-Não por você.
Um rápido silêncio se instaurou. “F” olhou para o relógio mais uma vez.
-Temos quarenta minutos.
E olhou para o relógio. Pela última vez.
Capítulo 3
-Você... Mas como?? Pensei que tinha sido destruído!!
-Foi o que todos pensamos – Ele tirava um envelope laranja de dentro do paletó – Até recebermos um telefonema anônimo nos revelando a sua possível localização.
-O encontraram lá?
-Não, era uma cilada. Muito bem planejada por sinal, porém Linda previu tudo e conseguimos usar a armadilha á nosso favor. Não vou entrar em detalhes, mas dominamos eles e encontramos um celular com informações reveladoras. Muitas informações. Em primeiro lugar eles estavam em uma missão de “queima de arquivo”, o que nos faz pensar de que de algum modo descobriram nossas identidades e então planejavam acabar com a gente.
-Tolos...
-Também acho – Ele sorriu – Quase amadores.
-Mas então se eram amadores como encontraram o livro?
-Eu não disse que encontraram.
Ele desviou seu olhar para o envelope laranja.
-Quero saber.
-Tudo em seu tempo, Grambel, tudo em seu tempo...
Ele tomou de volta o envelope antes que pudesse tocá-lo. Depois disso fez um sinal para sairmos e caminhou de volta para o elevador de serviço. Podia imaginar as engrenagens girando na cabeça de Astolfo, o segurança. Nesse instante devia estar criando sua milésima teoria sobre aquela estranha figura que não tirava os olhos de seu relógio de pulso.
Não paramos no térreo, fomos direto para o estacionamento no subsolo onde uma caminhonete preta nos aguardava com o motor ligado.
-Entre, estamos atrasados – Ele disse abrindo a porta de trás.
Entramos. Eu coloquei o sinto de segurança e observei “F” passar as instruções para o motorista.
“-...Não de atenção a eles, faça o que fizer só não reduza a velocidade...” Foi o pouco que consegui ouvir.
O motorista deu a partida e começamos a subir as rampas do estacionamento.
-E então, os boatos são verdadeiros?
-Você e seu senso de humor inoportuno... Pelo que parece, sim, as profecias são verdadeiras.
-Já conseguiu traduzi-las por acaso?
-Não todas e nem integralmente, mas já estamos trabalhando nisso nesse momento. Linda enviou um dos nossos para a Inglaterra onde um professor universitário aguarda uma cópia dos manuscritos. Ele pode nos ajudar.
-Como tem tanta certeza?
Ele se virou para trás e respondeu.
-Eu não tenho.
Senti um calor lá dentro de mim. O meu espírito de aventura estava vivo outra vez. Olhei para o lado de fora pelo insulfilm e observei a Avenida Paulista por outro ângulo desta vez. Uma tribo de emos estava no ponto de ônibus ouvindo música. Dois empresários corriam apressados para seus escritórios falando em seus telefones celulares e carregando maletas cheias de documentos os quais eles adoram se dirigir como “papeis importantes”.
Paramos no farol e duas crianças pequenas preparavam seu espetáculo de malabaris Um descaso urbano e social, sem dúvida, mas algo ao qual já estamos acostumados.
Naquele mesmo instante do outro lado do planeta um avião acabará de chegar no aeroporto de Londres (Londres tem aeroporto? Acho que sim). Os passageiros desembarcavam calmamente. Um casal de idosos retornavam a cidade em que a muito tempo atrás conheceram-se para comemorar o aniversário de casamento. Atrás deles um homem magro e baixinho estava apressado e afoito para chegar o mais breve possível ao seu destino. Assim que seus pés tocaram o chão ele saiu correndo para a saída. Chamou um táxi. Ele não carregava nada além de uma pequena pasta que trazia debaixo dos braços. O taxista era estranhamente um mexicano que apesar de seu inglês impecável ainda guardava um pouco do sotaque latino.
-Pra onde?
-Universidade de Londres, o mais depressa possível.
-Vai visitar alguém, doutor?
-Sim, minha filha está terminado o curso de enfermagem e vou passar minhas férias de verão com ela. Há tempos que não a vejo.
-Que beleza... Então relaxe e aproveite a paisagem.
O homem magro puxou de seu bolso um aparelho celular e acessou a Internet através de uma conexão sem fio. Entrou em um site de nome “Living Room” e clicou em um campo de digitação que solicitava um nome de usuário e em seguida uma chave eletrônica que permitia acesso á conta registrada. Pelo retrovisor o taxista acompanhava cada movimento do homem discretamente.
O celular emitiu um pequeno som semelhante ao de um sino. Emmanuel agora contatava seus amigos da América do Sul.
Capítulo 4
O computador portátil emitiu um som que Grambel poderia identificar como o de um sino. “F” acessava um site da web desenvolvido por uma empresa de segurança especialmente para conversas virtuais de alto sigilo. O nome era “Living Room” e sua página inicial transmitia uma sensação de conforto e segurança assim como uma sala de estar real. Havia um campo onde o usuário deveria digitar seu nome e mais a frente sua senha, que alcançava facilmente quinze caracteres entre números e letras. Em seguida outra janela se abria, dessa vez exigindo de “F” uma tarefa ainda mais estranha. Era uma fechadura eletrônica programada para abrir apenas com o tom da voz do usuário, nenhuma mais.
Era de fato uma fortaleza digital complexa e impenetrável.
“Eram dias frios. Eram dias de sol” – Ele disse lentamente diante do microfone.
“Seja bem-vindo senhor Ermert Fahrenheit” – Disse a voz eletrônica. Neste instante surge uma outra dela, agora com a foto de um homem branco com um chapéu azul.
-Talvez agora tenhamos um pouco mais de privacidade, não acha Emmanuel? – “F” apertava as teclas do teclado com a mesma ou mais velocidade com a qual um datilógrafo experiente e habilidoso bate um texto na máquina de escrever.
-Sem dúvida sombra de dúvidas, “F”. Levei mais tempo para acessar o site do que para aprender como fazê-lo. E sabe como se tratando de mim isso é um grande feito – Dizia o outro homem.
O farol finalmente abriu. “F” riu do comentário de seu correspondente.
-Sim, eu sei. Linda já mencionou seu nome em outra ocasião, é uma pena não ter tido a oportunidade de conhecê-lo em outro momento. Espero que saiba o quanto o sucesso de sua viagem é importante para nossa missão.
-Isso é de meu total conhecimento – Ele hesitou em enviar a próxima mensagem – Farei o possível para cumprir meus objetivos.
-Assim espero – Disse “F” – e se desconectou do site.
Estávamos em frente ao MASP agora. O relógio marcava meio dia em ponto. Uma limusine preta entrou bruscamente na nossa frente. Até aquele momento o motorista ainda não havia pronunciado palavra alguma. Eu continuava no banco de trás acompanhando o “bate-papo” de “F” pelo computador.
-Acho que encontramos seus amigos, senhor – Disse o motorista alargando a gravata no pescoço. Tinha uma voz grossa e firme, nem um pouco agradável. De fato era extremamente oportuna para aquela ocasião.
-Ótimo – Ele respondeu e então voltou sua atenção para mim – Espero que goste de corridas Grambel. Acabou de arranjar uma.
A partir daí os acontecimentos se desenrolaram rápido de mais, quase que ao mesmo tempo.
Não sei como aconteceu, mas quanto me dei conta à limusine ultrapassou os outros carros e parou bem na nossa frente, bloqueando totalmente nossa passagem. Dela desceram dois homens vestidos de preto que sacaram suas armas e começaram a disparar múltiplas vezes contra nós. Felizmente o pára-brisa agüentou suportou todos os tiros, ele foi projetado para isso e agora cumpria com excelência a sua função.
-Segure firme – Disse “F” – Carlos não liga muito para multas de trânsito e limite de velocidade.
A caminhonete avançou contra a limusine com toda a sua força, ela girou duas vezes até se chocar contra um poste de luz. Era agora um carro de luxo completamente destruído. Apesar do impacto Carlos não reduziu a velocidade, pelo contrário, só aumentou. Ele ultrapassou todos os veículos a nossa frente e quando não havia mais como desviar e tudo parecia perdido ele subiu na calçada como fazem nos filmes. Atrás de nós outro carro, dessa vez amarelo, ganhava velocidade e se aproximava de nós.
Fizemos uma curva tão brusca que o computador de “F” foi arremessado para longe e ligou o rádio que agora tocava “Sex Machine” do cantor americano James Brown.
O carro amarelo vinha a todo vapor em nossa direção. Duas vezes ele se chocou contra nós, mas Carlos era acima de tudo inteligente e fez uma manobra que nos posicionou atrás de nossos perseguidores, daí em diante foi fácil despistá-los. Ou ao menos era isso o que pensávamos.
Capítulo 5
O CD chegou a sua faixa oito, Billy Idol com “Dancing With Myself”. Pode parecer algo insignificante, mas para um jornalista como Grambel aquilo era como descobrir a roda ou a eletricidade. Nunca ninguém conheceu ou foi capaz de descobrir o gosto musical, ou qualquer outro gosto do enigmático Ermert Fahrenheit. De fato, ele era uma caixinha de surpresas.
-Para onde agora, senhor?
-Para casa Carlos, de volta para casa.
Tudo parecia tranqüilo agora. Não demorou muito, menos do que Grambel esperava. Carlos parou diante de um sobrado que caia aos pedaços e apertou um botão de um controle remoto. Uma luz vermelha piscou e o portão de ferro a nossa frente começou a se abrir. Ele estacionou a caminhonete dentro da garagem ao lado de um outro carro, dessa vez um Gol, vermelho brilhante.
-Vamos trocar de carro?
-Exatamente. Antes disso preciso checar umas coisas, enquanto isso você vai até a cozinha e procura algo pra comer.
Fiz um sinal afirmativo com a cabeça e subi as escadas. Elas davam numa sala com sofás velhos e com o papel de parede descascado em alguns pontos. Tinha uma televisão em cima de uma mesinha de madeira, mas ela não funcionava em sua totalidade. Também havia um piano e uma estante repleta de livros, alguns nela e outros caídos no chão. Não era um endereço físico, apenas alguma casa intermediária ou um centro de operações, alguma coisa assim.
Ouvi um barulho de estática vinda do terceiro andar. Subi as escadas, as tábuas vibravam, produzindo um som grave e que me dava aflição. Quando estava na metade passou pela minha cabeça a possibilidade de ela quebrar pela falta de uso. No mesmo instante disse a mim mesmo: “Não comigo aqui”.
-Suba! Estou aqui! – Ele gritou.
Caminhei por um corredor estreito. Ele era coberto por um tapete esverdeado e haviam alguns quadros tortos nas paredes. Era uma casa muito velha.
-Se parece com a nossa cabana – Disse eu da porta.
Ele estava sentado em um banquinho diante de uma escrivaninha. Nela havia um rádio e todos os seus componentes vitais e adicionais. Nunca entendi muito disso. Para mim aquele quarto se assemelhava um pouco a uma cabine de pilotagem ou um submarino, ou sei lá o que. Só sei que era um pouco aconchegante. Tinha uma cafeteira elétrica e algumas revistas. Tinha também um monte de CDs e Disquetes com diferentes rótulos e marcações de caneta permanente na capa.
-Essa não é sua verdadeira casa não é?
-È claro que não, nunca foi. Não troco por nada a minha cobertura.
-É, eu devia saber. Escute, eu sei que não estou em posição de exigir respostas mas eu preciso saber o que está acontecendo aqui.
Ele tomou um gole de café e apertou um botão em um painel. Na televisão surgiram imagens de câmeras de segurança de vários pontos da casa.
-O fim está próximo, Grambel. O livro foi encontrado.
-E qual o problema nisso? Basta destruí-lo outra vez!
-Não é tão simples assim Grambel, a magia do livro é mais complexa do que imaginávamos...
Grambel estava assustado.
-O que aconteceu nos últimos quatro anos?! Diga-me Ermet!!
-Quando pensamos que tínhamos eliminado o problema, ele voltou. E dessa vez voltou mais forte. Depois que queimamos o livro... Você viu, você estava lá! Você viu quando Linda jogou a gasolina e o fósforo e então... Mas nós falhamos Grambel, o livro não pode ser destruído dessa forma. Semanas depois da sua partida recebemos relatos de vários acidentes em uma cidade do extremo norte dos Estados Unidos. Acidentes causados pelo livro. Alguém o encontroou e descobriu como usar.
-Porque não impediram ele?
-Nós tentamos – Ele inclinou a cabeça e esfregou a testa – Mas alguém o encontroou primeiro. E esse é o problema.
Grambel ficou em silêncio.
-Nosso maior pesadelo se tornou enfim realidade – Ele ria ironicamente – Todo o trabalho que tivemos para mantê-lo a salvo foi em vão, porque a final é impossível mudar o destino. Está tudo escrito, não é mesmo?
-Quem o encontroou.
-Linda deu sua vida por essa maldita missão...
-Ermet diga quem encontrou o livro! – Ele gritou.
-CANALHAS! – Emet arremessou com o braço a xícara contra a parede.
-Eu sei o quanto é difícil para você acietar, Ermet, mas não há como mudar o passado. Ela fez a escolha dela.
-Ela não tinha escolha!! Ela não tinha opção!! Tudo que havia era a profecia, o desejo de salvar a humanidade da destruição!
-Ela fez o que achava que era certo – Grambel colocou a mão no ombro do amigo – Não é culpa sua.
-Eu... – Lágrimas corriam pelo seu rosto – Eu podia ter evitado... Eu podia ter dado um “basta” e abandonado tudo.... – Ele levantou a cabeça – Mas acho que essa é a responsabilidade que vêm com o conhecimento, não é mesmo?
-Todos nós sofremos, Ermet. Mas não podíamos ignorar o que vimos, o que presenciamos e o que sabíamos. Era nosso destino, nosso dever destruir o livro.
Ele se levantou e recolheu os cacos de porcelana do chão deixando-os em dentro de uma gaveta. Carlos apareceu na porta.
-Tudo pronto, senhor.
-Ótimo, espere lá em baixo, já estamos descendo.
Ele pegou um casaco e rondou a sala desligando os equipamentos. Mas parou diante da televisão. Das oito divisões que exibiam imagens das câmeras de segurança uma delas estava estranhamente desfiguradas. Ela exibia tons de branco e cinza até apagar definitivamente. Segundos depois a câmera do corredor do térreo apresentou o mesmo defeito. Depois foi a vez da sala e da escada principal.
-São eles, eles nos encontraram!
Podia-se ouvir o ranger da escada. O som ficava mais alto a cada instante até que... O som cessou. Era um mal sinal.
-Você primeiro – “F” apontava para a janela.
-Está louco?! Quer que eu pule da janela.
-Silêncio!! – Ele foi na frente – Venha comigo, idiota.
Capítulo 6
Foi a coisa mais bizarra que eu vi desde manhã. Os eventos daquele dia ainda não tinham sido completamente processados pelo meu cérebro, eu ainda estava me adaptando aquela nova e absurda realidade. Na noite anterior eu era um jornalista conceituado e agora eu era um alvo de uma quadrilha de assassinos.
“F” sempre foi meio louco, mas nunca achei que chegaria a esse ponto. Ele simplesmente pulou da janela como um nadador pula numa piscina ao som do disparo que dá início a competição. Aproximei-me da janela e só então entendi o que se passava.
Era incrivelmente genial ao mesmo tempo que era extremamente absurdo. Havia feno. Montes e montes de feno felpudo e macio posicionados estrategicamente no andar de baixo. Naquele instante podia jurar que ouvi minha mãe me repreendendo pelas ideias que passavam pela minha cabeça. O som dos passos se aproximava... Bom, eu nunca fui de ouvir ela mesmo... Então... Pulei.
Cai como uma pedra, sem qualquer apoio ou segurança, apenas a gravidade em ação. Felizmente o feno executou seu papel com perfeição e amorteceu minha queda. Não doeu nem um pouco. Olhei para cima. Um portão horizontal estava se movendo e bloqueou a passagem. Mesmo que pudesse escalar a parede até a janela (A única daquele lado que me dava acesso a casa) não poderia atravessar o portão de ferro.
-Pensei que não viesse.
Era brilhante. Aquele era um aposento separado do resto da casa, provavelmente antes aquela pequena área era um pequeno quintal talvez usado como lavanderia, porém no lugar das portas que dariam acesso ao interior da casa havia uma grande parede de tijolos, sólida como concreto. Incrivelmente do outro lado ela havia sido completamente recoberta pelo mesmo papel de parede do resto da casa, de tal modo que quando passei pela sala não notei qualquer diferença.
“F” pensou em tudo. Até nos mínimos detalhes.
-E agora, como saímos daqui?
Ele não respondeu de imediato.
-Não saímos – Ele abriu algo semelhante a uma caixa de força presa a parede – Ao menos não agora.
-O que isso?
-Sabe, essa casa é muito antiga – Ele mexia e remexia em vários fios e interruptores – Deve ter pertencido a alguma família de operários, ou coisa assim. Compramos ela por uma pechincha e tivemos uma surpresa quando chamamos o eletricista – Ele voltou rapidamente o olhar para mim – Haviam dois circuitos elétricos, duas fiações. Uma delas ainda estava um pouco danificada mas – Ele forçava uma alavanca que parecia estar emperrada – Com alguns reparos serviu direitinho... – A alavanca se destravou.
-O que você quer dizer?
-Se abaixe, Grambbel – Ele uniu o fio vermelho ao verde e então tudo estremeceu. O chão tremeu e ouvi estrondos acima de minha cabeça. Me atirei ao chão e tampei os ouvidos.
Era ano novo. Quando eu pensava que as explosões haviam acabado lá vinham mais e mais estrondos em seqüência. Foram dois grandes tremores até então. No quarto uma rachadura surgia no centro da parede de tijolos e se espalhava continuamente. Eu me revirava, procurava uma saída, um abrigo. Foi ai que notei uma maçaneta no chão, algo que não se vê todo dia. As explosões eram assustadoras, eu estava atordoado, mas consegui abrir uma portinhola que dava acesso ao, não sei aonde mas qualquer lugar parecia mais seguro no momento. Mergulhei naquela massa densa de escuridão e bati meu braço contra uma superfície extremamente sólida e fria.
Cobri a cabeça e fechei os olhos. O barulho era ensurdecedor. Finalmente depois de um minuto de explosões, parou. Abri os olhos e olhei para cima. “F” me observava com uma cara de deboche. Ele ria.
-Você é louco – Eu disse – O que você fez?!
-Eu dei um basta, Grambel. Matamos uma ninhada inteira com um só disparo.
-E isso vai adiantar alguma coisa por acaso?? – Eu estava em estado de choque, mas já tinha retomado a consciência e começava a me recuperar...
-Sinceramente? Não sei, mas é você tem que admitir que é gratificante – Ele sorriu – Agora que tal ascender às luzes?
Eu me levantei e tateei as paredes a procura de algum interruptor (Apesar do recém acidente com interruptores). Encontrei um botão e o pressionei. Surgiu a luz.
-Ótimo, já estou indo ai. Da próxima vez tente usar as escadas.
Eu observei o ambiente. O teto era extremamente baixo e eu precisava me encolher para caminhar por ele. Haviam prateleiras dos dois lados com caixas e mais caixas cada uma cuidadosamente identificada. No final (Não era muito longo) um terceira prateleira dessa vez com mantimentos, ferramentas e primeiros-socorros. Era uma sala para emergências.
-São meus arquivos – Ele disse enquanto passava a mão pela prateleira empoeirada – Registrei cada segundo de nossa experiência e guardei em segurança para que o segredo se mantivesse vivo caso o pior acontece-se.
Meu braço doía por causa da queda.
-E como alguém encontraria isso por trás de um sobrado velho e debaixo de três andares de dinamite?
-Hora não seja ingênuo, não uso dinamite. Eram pequenos explosivos de curto alcance, baratos e fáceis de se encontrar – Ele parecia orgulhoso do resultado obtido.
-E como explica as explosões.
-Nada de tão criativo. Botijões de gás. Fazem um grande estrago se você souber explorar todo o seu potencial.
-Isso é absurdo! Podia ter nos matado!
-Não seja tão radical!! Nunca detonaria a casa se não tivesse absoluta certeza de que estaríamos em total e completa segurança, idiota.
-E como me garante isso?
-Pelo que eu saiba eu não o devo nenhuma satisfação, você é quem está em debito conosco senhor Alexander Grambel.
Ele podia estar obcecado, mas no fundo estava certo. Eu tinha contas a pagar. Então desviei o assunto.
-E agora, como saímos daqui?
Ele percebeu meu recuo e disfarçou o olhar critico.
-Quero dizer... Não tem como voltar por onde caímos.... Não é?
-Tem um acesso para casa vizinha. Suba as escadas e vai encontrar uma porta bem camuflada.
-Você não vem?
-Preciso de um tempo.
Dei de costas e subi a escada. Ela era verticalmente presa à parede e no começo tive dificuldade para alternar os passos em cada degrau. Quando voltei para parte de cima a caixa de força permanecia aberta e o chão estava coberto de pó. Imaginei que a energia da explosão poderia abalar a velha estrutura da casa, então não quis permanecer muito tempo ali de baixo. Paralela a parede de tijolos havia outra parede, bem abaixo do portão de metal. Realmente, lá estava uma passagem para a casa vizinha. Quando abri e pulei para um canteiro de flores ao lado de uma piscina me senti como um bandido que acabara de sair do túnel e entrará no cofre abarrotado de diamantes.
“Não quero chamar a atenção” – Pensei comigo mesmo – “Temos de ser rápidos, mais deles devem estar a caminho”.
“F” estava ao meu lado e fechava a passagem com um chave.
-Podemos ir, eles estão viajando.
-Carlos vai ficar bem? – Só agora me lembrei do pobre motorista que ficará esperando por nós na garagem momentos antes da invasão.
-Carlos conhece meus métodos, espero que tenha sacado meu plano antes dele ser executado.
-Se fosse esse o caso ele não teria acessado seu esconderijo pela mesma janela pela qual pulamos? Ele estaria junto a nós agora.
Eu não sabia
-Receio que não, Grambel. Sabe, não podemos confiar em todo mundo. Se Calos soubesse da localização desse esconderijo ele representaria uma ameaça a nossa segurança e dos meus arquivos.
-Você matou ele.
-Foi um sacrifício, uma perda sem dúvida, mas necessária.
-Não importa! Devia tê-lo avisado!!
-Você não entende, Grambel. Muitas coisas mudaram desde a última vez em que você entrou numa missão. Os tempos são outros, não podemos arriscar.
Eu estava mais chocado com a frieza de “F” do que com os tremores e as explosões. O que ele queria dizer com “Os tempos são outros”? O que mudou nos quatro anos em que estive fora do esquema?
-Vamos – Ele olhou para o relógio, novamente – Estamos atrasados. Tem um avião esperando pela gente em Congonhas.
Circundamos a piscina até uma garagem. Uma vaga estava vazia e na outra um 4X4 gigante ocupava um espaço maior do que meu antigo apartamento. “F” pegou a chave dentro da casa.
-Aqui – Ele passou a chave para mim – Dirija. Temos uma hora se quiser sair do país com vida.
Hesitei. Olhei para a casa, para a porta arrombada, depois para chave e então para o carro. Estávamos roubando.
-Hora, eles não vão se importar. Além do mais acho que eles preferem perder um carro a ver o planeta Terra destruído.
Era errado, porém se tratava de uma lógica infalível. Peguei a chave e partimos rumo a Congonhas.
Capítulo 7
Amanda e seu namorado Henrique tinham acabado de completar dois anos de namoro. Como de costume nas férias ela viajava com a família para o sítio em Amparo, no interior de São Paulo, mas dessa vez o “paizão” Afonso levaria em seu carro mais um passageiro.
Seria um final de semana perfeito, ela estaria junto com o amor da sua vida. Seus pais estavam a vontade porque gostavam do garoto e aquela viagem significava uma pausa com os fax e telefonemas urgentes. Podiam abandonar o e-mail e desligar o celular.
Mas aquele fim de semana estava longe de ser agradável.
Ele percorria uma estrada de terra a quarenta quilômetros por hora. O veículo tinha tração nas quatro rodas e não enfrentava grandes problemas naquele terreno. Afonso era um verdadeiro chefe de família, tinha dois filhos e trabalhava dois turnos por dia na empresa de meias que abriu com o próprio dinheiro depois de anos de economias. Sua esposa Lúcia sempre apoio o marido, desde a época em que eram jovens e tiveram de adiar o casamento para p marido abandonar a firma em que trabalhava para abrir o próprio negócio. Três anos depois já estavam casados em sua própria casa que compraram com tanto esforço. Um dia ele estava sentado na poltrona lendo as notícias do jornal da manhã quando ela saiu do quarto e deu a melhor notícia que ele ouviria em toda a sua vida.
O bebê, uma linda garota de olhos castanhos e cabelo liso, veio pouco tempo depois e foi muito bem recebida por parentes e amigos. “Foi um presente de deus”, como dizia Lúcia na época. Mas a pequena Amanda não ficaria sozinha por muito tempo, anos depois chega seu irmão Caio, um presente maior ainda. Não em seu sentido literal porque o garoto mesmo com doze anos não atingira a altura de seus colegas de classe e amigos do bairro. Mas era um grande homem por dentro, nunca se metia em encrencas, ou ao menos não era descoberto com tanta facilidade.
Era uma família modelo. Agora a filha acabará de passar no vestibular e comemorava dois anos de namoro com Henrique (Um presentinho de deus, como dizia Afonso). Afonso e a mulher tinham conseguido uma folga no trabalho e aproveitaram esse tempo livre para levar a garotada para o sítio em Amparo, onde podiam se divertir e relaxar um pouco.
Riram e cantaram a viagem toda. Tiveram de parar em um posto de gasolina para Caio ir ao banheiro. Coisa rápida. Faltavam mais quarenta minutos, em breve estariam tomando sol à beira da piscina enquanto Lúcia cuidava do jardim e Afonso preparava o churrasco.
Mas o dia estava longe de acabar assim.
Capítulo 8
O carro vinha equipado com um dispositivo GPS que, além de todos os recursos, permitia ao usuário calcular o trajeto até um ponto pré-determinado. Digitei no visor “Aeroporto Internacional” e uma voz eletrônica me guiou ditando direções como “virar a direita” ou “seguir em frente” e assim por diante. Estávamos na avenida do Estado. Eram 10.4 Km, cerca de 1 Hora.
-Não temos todo esse tempo, faça outro caminho.
Não havia outro caminho. O aparelho era programado para escolher o trajeto levando em consideração o trânsito e a distância. Aquele era o caminho mais rápido.
-Faça, outro caminho, Grambel.
-Esse é o único.
-Nós dois sabemos que esse não é o único caminho.
É, eu sabia disso.
-Grambel você sabe o que tem de fazer.
Sim, eu sabia. Virei a direita em vez de seguir em frente. A voz eletrônica disse “Retorno á 5 metros”, mas eu segui em frente. O computador tratou de traçar uma rota alternativa, mas antes que concluísse seus cálculos “F” o desligou de um modo, vamos dizer, não muito sutil.
Parei em frente do grande edifício. Abandonamos o carro do outro lado da rua e corremos para fora. Passei pela porta automática e disse “Olá” para a secretária. Atravessei o grande salão de vidro em direção ao elevador panorâmico. “F” estava me seguindo em passos menores. Apertei o botão de número “23” e ele se ascendeu. O elevador começou a subir e tivemos uma visão espetacular das viaturas cercando o prédio.
Capítulo 9
Foram momentos de grade tensão.
Eram quatro deles. Cercaram o carro e mandaram que saíssem dele.
A moça saiu primeiro. Abriu a porta do carona e se ergueu com as mãos na cabeça. Um homem de preto a puxou pelos cabelos para perto dos outros.
As crianças saíram do banco de trás. O motorista puxou o celular do bolso e....
-Não tente nenhuma gracinha se não quiser ter de recolher os miolos de seus filhos pelo chão. Agora saia do carro com as mãos para o alto.
Ele saiu com o celular ainda em mãos.
-Solte.
Ele obedeceu. Estava disposto a fazer de tudo pela segurança de sua família.
-Diga-nos o que sabe sobre Ermet Fahrenheit! – Um deles gritou, devia ser o líder do grupo. Ele pressionava sua arma contra a têmpora da moça – Vocês tem trinta segundos! Comecem a falar!!
A garota mais nova estava paralisada de medo.
-O que vocês querem?!! Solte já minha mulher!! – O homem gritou – Não sabemos nada desse homem!!
-Resposta errada, Afonso – O homem ficou branco de medo – Surpreso? É, nós sabemos seu nome e sabemos quem você é. Sabemos também que ás quatro e meia da tarde Ermet Fahrenheit saiu de sua residência dentro do seu carro. Queremos respostas, Afonso.
-Não sei de nada disso!! Nunca ouvi falar desse homem!!
-É claro que não, suponho que seja costume seu confiar sua casa e seu 4X4 a estranhos, não é mesmo?
-Eu... Eu... Se é dinheiro que querem, podem levar! Só deixem minha família em paz!!
O garoto chorava. Aquilo não podia acabar bem.
-Não queremos seu dinheiro, idiota! – Um outro homem falava agora. Ele ergueu a filha de Afonso pelos cabelos e jogou-a para fora da estrada. Ela bateu com a cabeça numa pedra e ficou inconsciente.
-Amanda!! – Um outro garoto, este um pouco mais velho gritou – O que vocês fizeram com ela canalhas?!! Amanda!!
Um disparo. Seus gritos foram silenciados. Ele caiu ao lado do corpo da mulher que amava.
-Porque isso?! Digam o que vocês querem!!
-Nós queremos informações, Afonso. Queremos saber quais são os planos de Ermet – O tom de voz do líder mudou. Agora ele falava friamente como um assassino sedento por sangue pronto para fazer sua próxima vítima.
-Eu.... Eu.... – Afonso nunca ouviu aquele nome, mas ele sabia que os homens que apontavam armas para sua família não queriam aquela resposta. Ele precisava de uma distração, precisava ganhar tempo...
-GPS. Meu carro tem um rastreador por satélite. Podem encontrá-lo. Só tenho de comunicar à empresa que faz o monitoramento o roubo e eles vão lhes dar as coordenadas.
O homem de preto sorria ironicamente.
-Era disso que estávamos falando. Silas, dê ao doutor seu telefone, mas antes informe o chefe de que achamos a sua presa.
Capítulo 10
Deviam ser mais de dez ao todo. Agora não tinha mais volta.
Assim que as portas de metal se abriram “F” eu corremos para o escritório em que tudo aquilo havia começado horas atrás. Era irônico e seria engraçado se não fosse trágico. Revirei uma gaveta e dela tirei uma carteira marrom. Peguei também os óculos e o telefone celular (Apesar de não esperar nenhuma ligação e não ter nenhum telefonema pendente em mente). Depois disso voltamos para o elevador. Agora foi “F” quem apertou o botão. O elevador subia. “24”, “26”, “29” e... Parou. O elevador simplesmente parou entre o vigésimo nono e trigésimo andar. Isso nunca acontecerá antes.
-Tarde de mais, cortaram a energia dos elevadores! Droga! – Disse “F” – Como nos encontraram? Como descobriram o roubo? Eu não deixei rastros!!
-As explosões podem ter chamado a atenção – Respondi – Alguém deve ter chamado a polícia e eles descobriram sua passagem para a casa vizinha.
-Impossível, mesmo que a polícia revirasse toda a casa nunca encontrariam o quarto secreto. O acesso pela janela até o feno fica bloqueado por um teto falso, uma espécie de portão vertical que só se abre ao meu comando.
-Mesmo assim poderiam ter derrubado a parede de tijolos.
“F” balançou a cabeça. Ele estava tão confuso quanto eu.
-Além de toda a proteção o quarto era revestido com concreto em todas as direções. Eu sei do que estou falando Grambel, o quarto foi projetado para ser impenetrável até mesmo para a polícia. Seja lá como nos descobriram não foi pelas explosões, ou não inicialmente. De algum modo descobriram o roubo e nos seguiram até aqui.
-O que é estranho, não notei nenhum carro suspeito atrás de nós.
A feição de “F” mudou instantaneamente. Seu sexto sentido de critico estava sendo colocado em prática.
-Grambel, acha que o dispositivo GPS pode ser rastreado?
Eu fiquei mudo, não sabia o que dizer. Era óbvio, não era? Os donos da casa que invadimos resolveram verificar se estava tudo bem e então ativaram o dispositivo GPS do carro e quando viram que ele fora roubado avisaram as autoridades.
-Somos procurados, Grambel. Somos oficialmente fugitivos da polícia.
Ouvimos o som de passos do lado de fora do elevador. Eles estavam a caminho.
-Não vamos acabar assim “F”, não aqui e nem agora.
Subi nos ombros dele e removi a “tampa” da parte de cima do elevador que permite aos técnicos fazerem a manutenção quando necessário. Na verdade foi mais influenciado pelos filmes de ação do que pelo meu raciocínio lógico nesse momento. Subi e depois ajudei “F” a fazer o mesmo, mas antes ele fez alguma coisa lá dentro que não pude ver com exatidão. Subimos as escadas frias e escorregadias até alcançar o trigésimo primeiro andar. A pergunta agora era como abrir as portas de metal.
-Sabe fazer ligação direta? – Perguntei.
-E como isso pode nos ajudar agora?
-Confie em mim, consegue fazer ligação direta em uma porta eletrônica?
Capítulo 11
-Radar Monitoramento de Veículos, no que posso ajudá-lo?
-Quero a localização do meu carro,
-Qual o seu numero de registro, senhor?
-È “trezentos e quarenta e sete”, digito de confirmação “b”.
-Qual o motivo da solicitação do rastreamento, senhor... Afonso?
-Pessoal – A moça percebia a tensão na voz do homem.
-O senhor está bem senhor Afonso?
-Sim, apenas me envie as coordenadas.
-O senhor está realmente bem?
O homem de preto olhou fundo nos olhos de Afonso.
-S-Sim, eu estou bem. Quero as coordenadas agora – E desligou o celular.
-Você fez a escolha certa, Afonso, acredite. Agora queremos a conta do seu endereço de e-mail.
-O usuário é meu próprio nome e a senha é quatro, zero, zero, dois, treze, quinze, zero, três.
Um outro membro do grupo estava com um computador portátil em cima do pára-choque do carro.
-Negativo, senha incorreta.
-Parece que você está com um colapso de memória, não é Afonso? Talvez isso restaure sua memória.
O líder deu-lhe um soco no nariz. O pobre homem caiu de joelhos com a camisa azul manchada de sangue. Em seguida recebeu um chute no estomago que o fez cair no chão.
-Não vou perguntar outra vez – O homem cochichava em seu ouvido – Qual é a senha do e-mail?
Capítulo 12
Roland e sua equipe estavam investigando uma pista falsa dessa quadrilha há dois meses. Não haviam mais esperanças, era um caso perdido que seria cedo ou tarde arquivado e esquecido enquanto os assassinos permaneciam a solta fazendo novas vítimas. Ele estava sentado ao lado da máquina de capuccino pensando em qual seria o seu próximo grande fracasso.
-Roland, ligação na linha dois – Disse Bela, a secretária.
-Quem é?
-Yumi, do serviço de inteligência.
-Diga que não posso atender agora.
-Acho que é a chance que você esperava Roland.
Ele se levantou rapidamente.
-Transfira para meu escritório.
Roland, o clássico clichê do investigador solitário e obcecado pelo seu trabalho recebia de braços apertos qualquer notícia que pudesse levar aos patifes que ele e sua equipe perseguiam.
-Boa-noite policial, no que posso ajudá-la?
-Creio que não precise de sua ajuda capitão, mas vou prosseguir por mera formalidade e vontade de meus superiores. Á cerca de vinte minutos atrás uma central do interior nos comunicou um seqüestro de uma família inteira pelo que parece ser uma quadrilha de assassinos. Monitoramos o desenrolar da conversa através de um telefone celular de uma das vítimas, a qual no instante em que percebeu o seqüestro ligou para o “190“. Assim que rastreamos a ligação enviamos três viaturas para verificarem o ocorrido.
-E porque está me falando isso policial?
-Minutos depois de identificarmos um disparo a ligação foi interrompida, não sabemos o que aconteceu daí em diante.
-Entendido policial, mas o que isso tem a ver comigo.
-O nome “Ermet Fahrenheit” lhe parece familiar, capitão?
O telefone quase caiu das mãos de Roland.
-Quero a localização – Ele pegou uma caneta e um bloco de papel – Quero a localização agora.
Capítulo 13
“F” estava fazendo o melhor possível, apesar de ser formado em artes na USP ele tinha um pouco de mecânico. Também pudera: Fora criado em uma família pobre. O pai era eletricista e sustentava toda a família com o pouco que ganhava na oficina, dentro da própria casa. Apesar de ter cursado o fundamental inteiro na escola do estado, era um gênio nato. Conseguiu bolsa de estudos integral nos melhores colégios, mudou três vezes só no ensino médio. Porém nas férias enquanto seus colegas ricos e poderosos viajavam para algum país da Europa em seus jatinhos particulares ou transa atlânticos colossais ele se contentava em cuidar da mãe doente e ajudar o pai na oficina.
Ele tinha jeito para mecânica, era o que seu pai sempre dizia. E era verdade. Ele amava o filho e a mulher, mas sua experiência de vida e seu extinto de sobrevivência diziam que sonhos nunca se realizavam e que correr atrás deles era perca de tempo. E foi por isso que quando completou dezessete anos “F” fugiu do cortiço em que morava para viver em um apartamento do centro e estudar na universidade.
E aqui está ele, ainda não alcançou todo o prestígio internacional com o qual ele sonhava, mas para ele cada texto com seu nome que era imprenso, todo artigo de jornal escrito por ele que era publicado era um grande troféu. Ele se orgulhava de tudo que conquistou.
Foi Linda quem me contou tudo isso.
Mas ainda assim, nunca se esqueceu da onde veio. Tanto que agora eu via as portas do metal se abrirem como se respondessem a uma ordem telepática dele.
-Você primeiro – Eu disse – Devo isso a você. Obrigado.
-Sabe como critico sentimentalismo, Grambel. Vai você. Primeiro as damas.
-Obrigado – Sabia que isso vindo de “F” era um gentil obrigado – Idiota.
Corremos para as escadas que davam acesso ao heliponto, lá um helicóptero pequeno ter adivinhado nossa necessidade no momento em que “F” disse que não havia muito tempo.
-Ainda sabe pilotar essa geringonça?
-É como andar de bicicleta, não é? Agente nunca esquece.
“F” não parecia muito confiante no meu velho ditado. Mesmo assim, vendo que não tinha outra opção, ele entrou e colocou o sinto de segurança.
Entrei. Da carteira marrom tirei as chaves. Coloquei meus óculos e preparei tudo para a decolagem. Nada podia nos parar agora.
Nada. Exceto ela.
Capítulo 14
O homem pressionava a arma contra a cabeça de Lúcia e fazia ameaças. Afonso estava suando frio. Ele não sabia o que estava acontecendo, tinha dito a real senha, mas por algum motivo que não sabia explicar os homens não conseguiam acessar sua caixa de mensagens para encontrar seu carro e esse tal de Ermet.
Ele não sabia quanto tempos mais demoraria até eles se começarem a partir de ameaças para ações. O socorro ainda demoraria a chegar? Quanto tempo ainda restava de bateria no celular? Tempo! Tempo é e sempre foi a palavra chave para tudo e agora milésimos de segundo fariam toda diferença.
-Eu vou contar até dez. Dez.
-Eu já disse a senha!!
-Nove.
-Eu juro que já dei a senha!! Por favor não machuquem minha família!!!
-Oito, sete.
-Por favor! Eu imploro!!
-Tarde de mais Afonso.
Um disparo. Afonso fechou os olhos. Tudo escureceu.
Ele ouviu as sirenes. Já era tarde. Tudo estava perdido.
-Levem-nos daqui! O senhor está bem?
Era uma voz feminina. Ela tocou no ombro dele e ele teve a estranha sensação de que estava tudo bem.
-Sim.
Ele abriu os olhos. Sua família estava toda abraçada. Eles choravam e agradeciam a deus. Quando o garoto abriu os olhos e viu o pai saiu correndo e pulou em seus braços. Os outros fizeram a mesma coisa.
A estrada de terra estava agora cercada de viaturas. Os homens de preto foram algemados e Henrique ainda estava sendo colocado numa ambulância.
-Ele vai ficar bem? – Afonso perguntou a policial.
-Sim, a bala não perfurou nenhum órgão vital. Nossa única preocupação é que ele tenha perdido muito sangue, mas nada tão grave. O senhor foi um verdadeiro herói hoje, senhor Afonso. Sua família deve se orgulhar de você.
-É, eu tenho orgulho dela.
Seus olhos percorriam o ambiente. Um policial mais velho falava ao telefone enquanto analisava o computador do grupo. A jovem policial que o socorreu, uma Asiática de cabelos negros e olhos puxados, revistava o interior do automóvel. Ele pode ver ainda seu celular apagado debaixo do carro. Bem onde ele deixou. Lembrou-se do momento em que sua esposa saiu do carro com as mãos para o alto e ele rapidamente pegou o celular e só teve tempo para digitar o um, o nove e o zero. Aquilo salvou sua vida e a das pessoas que ele mais amava no mundo todo.
No chão o ex-chefe da quadrilha estava morto com um tiro certeiro na cabeça.
Como Afonso previu, foram segundos de diferença.
Capítulo 15
-O que descobrimos até agora?
-Não estavam atrás de dinheiro, como já deve saber. Eles tinham certeza de que Ermet saiu da casa do Senhor e Senhora Montanha no carro deles, uma Hilux preta ano 2011.
-Huum... Isso quer dizer que provavelmente tinham alguém no local. Já temos alguém lá?
-Sim, mandei o número treze e quatorze verificarem.
-Dois agentes?! Policial Yumi você não deve estar ciente do grau de importância dessa missão. Por muito tempo eu e minha equipe investigamos essa quadrilha e agora que finalmente encontramos algo realmente relevante você põe tudo a perder enviando dois gatos atrás de um leão? Está vendo, é por isso que não gosto de trabalhar com gente do seu departamento.
-O senhor é muito preconceituoso, sabia? Você subjulga nossa capacidade só porque estamos em um posto de menor importância que o seu. Não me importo com isso, mas se quiser trabalhar comigo tem de por de lado seus “ideias” e por em prática seu juramento.
Ele ficou em silêncio.
-Fui clara o suficiente?
-Quero uma equipe inteira lá. Dê a eles direitos absolutos, mas quero que me tragam....
A verdade era que Roland não sabia o que estava procurando. Para ele qualquer coisa que levasse a outra já era importante. Era como uma caça ao tesouro, só que no lugar do tesouro você pode imaginar o líder de uma máfia de assassinos.
-Antes que eu me esqueça, e o papo das coordenadas? Já localizaram?
-Estamos trabalhando nisso, parece que o e-mail do Afonso foi infectado por um vírus de computador e...
-Vírus de computador? Você quer dizer que se não chegássemos lá a tempo aquele homem e sua família seria mortos por causa de uma praga digital?!
-Sim, o vírus impede o acesso á caixa de entrada do e-mail. Já falamos com a empresa que faz o monitoramento do veículo, mas infelizmente não é possível alterar o endereço de e-mail para qual a chave que dá a localização em tempo real do dispositivo GPS é enviada. O máximo que eles podem fazer é nos mostrar o mapa com a última localização dele, o que atrapalha se ele estiver em movimento.
-Certo, e quando chega esse mapa?
-Em alguns instantes, dei a eles o número do seu fax.
-Ótimo, quero seu melhor agente em informática empenhado em desarmar esse vírus e descobrir a sua procedência.
-Ok, mas isso pode levar algumas horas.
-Não há problema – O aparelho de faz apitou e um mapa começou a ser impresso.
Roland pegou o mapa e mostrou a Yumi.
-Quero vinte viaturas atrás dele – Ele estava determinado – Vamos faze algumas perguntas pra esse cara.
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Oi gente!! Como vão?! Bom, eu tô aqui pra dizer que muuuitas surpresas e muitos mistérios ainda viram nas continuações dessa alucinante história. Muitas persseguições, novos personagens (Um deles muito famoso..) e novas perguntas que Grambel terá de responder para salvar sua vida e a do amor de sua vida. E para os fãs do Justin Bieber eu digo apenas "aguardem...". Em breve a parte 2 de "Justin Bieber e o Livro Perdido". Enquanto ela não chega olhem as váárias postagens do Blog. Aqui você encontra boa parte dos meus textos e histórias, muitas delas emocionantes e muitas outras engraçadas. Obrigado e até a proxíma!!
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